quinta-feira, agosto 18, 2005

18 de Agosto

Já lá vai tempo. Já lá vão 24 anos. Mas em Agosto de 1981, o Golfo da Sidra fervilhava por esta altura de tensão. Kadafi tinha anunciado nessa época que os limites das suas águas territoriais tinham aumentado para 480 km, e os Estados Unidos alegavam que isso era contrário à legislação internacional e que restringia o espaço de manobra da VI Esquadra no Mediterrâneo.

Numa demonstração de força, os norte-americanos deslocaram para a zona o porta-aviões Nimitz, que juntamente com o Forrestal, realizou uma série de exercícios nas águas que os líbios diziam ser suas. Os dois porta-aviões estabeleceram à sua volta zonas de protecção da frota que eram patrulhadas por aviões F-14A Tomcat do Nimitz e F-4S Phantom II do Forrestal. Os líbios reagiram à provocação e no primeiro dia de manobras, a 18 de Agosto, enviaram vários grupos de caças para interceptar os aviões da Marinha norte-americana, sem fazerem, porém, qualquer disparo.

Mas no segundo dia de manobras, dois Tomcat do Nimitz que faziam uma patrulha de rotina detectaram dois SU-22 em aproximação e decidiram ir ao encontro dos aviões líbios. Quando se aproximaram, o SU-22 líder que vinha à frente da formação disparou um AAM AA-2 “Atoll”. Talvez o tenha feito sem querer ou talvez o tenha feito de forma intencional, mas o disparo provocou a reacção dos Tomcat. Em 45 segundos, os dois Sukhoi foram abatidos pelos F-14 do Nimitz, que usaram mísseis AIM-9L Sidewinder. Um dos pilotos conseguiu ejectar-se em segurança, mas o autor do disparo, embora tenha conseguido ejectar-se, o pára-quedas não abriu. Levou com ele o segredo da razão do disparo.

Mas o episódio foi usado pela Líbia a seu favor. Com este incidente, o país diminuiu o isolamento diplomático que tinha desde a invasão do Chade. Em pouco tempo, vários países árabes tornaram-se solidários com Kadafi condenando os Estados Unidos pela agressão. Mas não seria a última vez que os Tomcat actuariam contra a Força Aérea Líbia. Em 1989, abateriam dois caças líbios Mig-23 na mesma região.

Mas já lá vão 24 anos. O tempo passa. Hoje Kadafi voltou a ser um líder aceitável pela comunidade internacional. Quem diria? E já ninguém se lembra dos dois Sukhoi líbios abatidos naquele dia. E dos Tomcats que os derrubaram. E das manobras militares. E do Golfo da Sidra. São 24 anos. Pesa um bocado. Eu próprio não me lembro do episódio. Era demasiado novo. Tinha 11 anos. Sabia lá o que era o Golfo da Sidra com aquela idade? Ou o Kadafi? Ou o que era um F-14 ou um SU-22? Só mais tarde é que estudei o assunto.

Mas lembro-me bem da operação “El Dorado Canyon” em Abril de 1986, que atacou directamente Tripoli e Bengazi. Disso sim, lembro-me bem. Morreram centenas de pessoas nesses ataques, inclusive uma filha de Kadafi. E também me lembro da bomba deixada por um terrorista palestiniano uns dias antes numa discoteca de Berlim ocidental que matou 2 pessoas e feriu 230, muitas delas militares americanos. São coisas que o tempo não apaga. Eram assim os anos 80. Hoje não é muito diferente.