quinta-feira, junho 01, 2006

Contaminações

Uma notícia hoje no Público da autoria de Helena Pereira provocou uma cadeia de contaminação jornalística a propósito da venda dos F-16s com repercussões junto do próprio ministro da defesa.

A jornalista escreveu o seguinte a propósito do segundo lote de F-16s comprados no tempo de António Guterres: “o segundo pacote de F16 foi comprado há poucos anos pelo Governo de António Guterres. Desses aviões, apenas quatro foram modernizados e estão a voar. Os outros ainda estão "encaixotados".

Ora alguém na SIC leu a notícia e fez uma entrevista ao ministro onde perguntava como é que era possível que os aviões tivessem sido comprados e nunca tivessem voado.

O ministro provavelmente surpreendido com a questão deu uma resposta muito mal sustentada dizendo que os aviões de facto não eram precisos, pois no fundo quando os aviões foram comprados tinham em vista atender certas necessidades que agora já não existem devido a uma mudança no ambiente estratégico. É claro que não se percebe como é que o contexto estratégico para a actuação dos aviões mudou assim tanto desde 1998, quando o Peace Atlantis II foi acordado, mas vamos então contextualizar.

Peace Atlantis I – Primeiro lote de 20 aparelhos F-16s. O programa foi assinado em Agosto de 1990 e os primeiros aparelhos recebidos em Julho de 1994. Formaram a esquadra 201, que opera em Monte Real.

Peace Atlantis II – Segundo lote de 25 aparelhos. O programa foi assinado em Novembro de 1998. Os aparelhos começam a chegar em Junho de 2003. Dos 25 aviões, 5 ficaram em reserva. Os outros 20 formaram a Esquadra 301 a funcionar em Monte Real desde Novembro de 2005.

Portanto, existem actualmente duas esquadras de F-16s a funcionar em Monte Real. A verdade é que do segundo lote de aparelhos apenas quatro foram modernizados, mas suponho que os restantes 16 estão a voar.

Ora este tipo de notícia amplificada pela SIC provoca nas pessoas a sensação de que a força aérea andou a comprar aviões para estarem encaixotados, ou seja, andou a gastar dinheiro para nada, o que não é verdade. E a resposta do ministro à pergunta também não foi a mais feliz, pois assim aumenta o ruído a propósito desta questão. Mas dá também um sinal de que não conhece bem a história nem a estrutura da força aérea. E isso num ministro da defesa não é bom.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro José,

Temo que o jornalista até esteja correcto. De facto encontram-se apenas 4 aeronaves a voar. As restantes encontram-se nos diversos estágios da modernização, um dos quais é o "encaixotamento" (tal como chegaram)...

11:47 da tarde  

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