Ainda sou do tempo em que o Panavia Tornado começou a entrar em serviço na Europa Ocidental. Concebido para voar a baixa altitude e a grande velocidade sobre a Europa Central era um aparelho que impressionava pelo seu porte, carga de armas e capacidade de bombardeamento.
A doutrina dominante na altura era de que num espaço aéreo bem defendido a melhor forma de infiltração era voar a baixa altitude e depressa de forma a conseguir escapar aos sistemas de detecção e a diminuir a capacidade de resposta das defesas aéreas. O Tornado era o expoente máximo deste conceito.
Daí que nos anos 80 havia uma certa mística à volta deste avião como aparelho de ataque e interdição e uma certa confiança de que o Tornado em combate era um adversário temível.
Mas a prova de fogo do Tornado surgiu com a 1ª Guerra do Golfo em que vários Tornados foram mobilizados para combater nas areias escaldantes do Iraque. A RAF mobilizou 3 esquadrões com 15 aviões cada baseados em Tabuk e Dharan, juntamente com os Tornados sauditas e a Itália mobilizou 10 Tornados baseados em Al Dhafra, nos Emirados Árabes Unidos.
A tarefa principal dos Tornados na 1ª fase do conflito era interditar as bases aéreas iraquianas usando um dispersor de munições JP233 concebido para a destruição de pistas. Durante as 3 primeiras noites do conflito, os Tornados da RAF usaram os JP233 em 63 saídas contra 7 bases aéreas no Iraque. Três aviões foram abatidos no decorrer desta fase e dois deles parece que foram abatidos por mísseis de curto alcance Roland.
Um quarto Tornado foi abatido a 22 de Janeiro, quando atacava uma estação de radar em Ar Rubtah. Destes abates resultou a captura de pilotos que foram exibidos na TV iraquiana como troféus de guerra. A juntar a estes 4 abates de Tornados britânicos há também na mesma fase o abate de um Tornado italiano.
Perante estas perdas, o comando aliado decidiu que os aviões deviam começar a operar a 6 mil metros de altitude, onde só os grandes SAM ou os canhões antiaéreos de 100 mm podiam chegar. Há medida que o conflito se desenrolava a ameaça dos SAM foi também reduzida pela acção dos F-4G Phantom “Wild Weasel” armados com HARM e os Tornados da RAF armados com ALARM.
Os ataques a média altitude diminuíram obviamente o risco de abate embora no dia 14 de Fevereiro, um Tornado tenha sido abatido por um SA-2. Por outro lado, os motores do Tornado não estavam optimizados para voar a mais de 6 mil metros e a potência do avião diminuía muito a estas altitudes tendo a carga de armas típica sido reduzida para 1300 kg juntamente com tanques de combustível que tinham que ser usados em todas as missões. Entretanto, a chegada de sistemas de guiagem para ataques de precisão foram um acrescento importante nas missões dos Tornados, que começaram a ter outra eficiência nos bombardeamentos. Os alvos mudaram e deixaram de ser as pistas de aviação e passaram a ser pontes, abrigos, paióis de munições, refinarias, centrais eléctricas e etc…
Resumindo, as 3 forças aéreas equipadas com o Tornado realizaram mais de 3 mil saídas em 6 semanas de combate.
Ao todo, foram abatidos um Tornado italiano, outro saudita e seis britânicos. Em toda a campanha, os Tornados da RAF utilizaram uma centena de JP233, quase 4250 bombas de queda livre e 950 LGB.
A pequena força italiana realizou 226 saídas, lançando 565 bombas Mk 84.
É claro que os abates na força de Tornados quebraram um pouco a aura que existia à volta destes aviões. O Tornado que parecia um avião invencível, parecia agora vulnerável como outro avião qualquer.
Mas se olharmos para a operação dos Tornados contra as bases aéreas constatamos que operaram contra alvos bem defendidos por SAMs e que não tinham ainda sido suprimidos quando os Tornado atacaram. Constatamos também que o voar a baixa altitude no deserto não tem tantas vantagens como na Europa Central, onde o relevo favorece muito mais o voo a baixa altitude do que no deserto. Portanto, os Tornados actuaram em missões de grande risco e exposição, daí terem sofrido perdas superiores às de todos os outros aviões.
Mas as suas missões foram obviamente importantes no esforço de guerra da Coligação e mostraram que o avião como força de ataque era um bom multiplicador de força podendo levar uma carga de armas razoável naquelas condições.
Agora que o vemos pouco a pouco a deixar o palco europeu é com uma certa nostalgia que olhamos para o passado e lembramos estes primeiros combates onde entrou. Já lá vão 15 anos. É claro que o Tornado ainda continua a cruzar os céus da Europa e vai demorar até ser completamente substituído pelo Tufão. Mas um dia o velho bombardeiro dará o lugar a outro.
Será também o fim de uma época de um avião concebido especialmente para ataque a baixa altitude. Hoje o bombardeiro ideal é o avião furtivo, mas mesmo o conceito de bombardeiro desaparece num mundo onde os aparelhos multifunções dominam os ares.
Mas tenho ainda aí um Tornado desses primeiros tempos do Golfo com a sua pintura clara e material absorvente de radar nos bordos de ataque das asas. Está aí a lembrar que o Iraque ainda continua tórrido e perigoso como nos velhos tempos. Quem quiser pode comprar um
aqui. O modelo representa o famoso "Debbie" favorito do comandante Pablo Mason, que comandou 19 saídas durante o conflito.