terça-feira, março 21, 2006

Pilotos

Há vários anos que a força aérea tem problemas com o seu quadro de pilotos. Devia ter 400 pilotos e só tem 300. Esta falta de pilotos deve-se em grande parte à saída de pilotos para a aviação comercial. As condições são melhores. Enquanto que um tenente ganha 2.000 /mês e um capitão 2.500 euros, na TAP pode ganhar mais do que isso, daí a atractividade da carreira comercial.

Todos os anos, a FAP abre vagas para PILAV na academia em função das necessidades que tem. Teoricamente devia conseguir suprir a falta de pilotos, mas o que tem acontecido na verdade é que essas vagas não têm sido preenchidas na totalidade, não só pela abertura de cursos fora da AFA que “roubam” potenciais candidatos à AFA, como também devido ao elevado nível de exigência nas provas de selecção que eliminam muita gente como também pelo fraco nível de atractividade da carreira militar. Praticamente, desde 1996, que se verifica um défice sério para preencher a totalidade das vagas disponíveis, o que provoca problemas no fornecimento de pilotos à FAP. Depois é preciso também ver que mesmo entre os candidatos admitidos nem todos conseguem terminar o curso com sucesso, portanto, os que chegam ao fim são poucos. Juntando a isto o assédio cíclico de que os pilotos aviadores são alvo por parte das companhias civis temos o problema que actualmente vivemos.

Por outro lado, a formação de pilotos no sector civil não satisfaz obviamente as necessidades do mercado aeronáutico senão as companhias não iam buscar pilotos à FAP. Além disso, existe um outro factor suplementar que tornam os pilotos da FAP mais atractivos do que um recém-licenciado de um curso de ciências aeronáuticas. É que os pilotos militares já possuem pelo menos 8 anos de experiência e muitas horas de voo, o que os torna mais experientes do que pilotos recém saídos das universidades. Para sair da FAP actualmente um piloto tem que ter pelo menos 8 anos de carreira, pois antes disso não possui mecanismos de saída para a aviação civil.

Repor estas perdas não é fácil, pois um piloto demora 4 anos a formar-se. Portanto, a FAP tem um problema sério cuja resolução passaria obviamente por tornar mais atractiva a carreira militar de forma a conseguir mais candidatos e a preencher o número de vagas que abre todos os anos.

Para isso, precisava de mudar de forma significativa os mecanismos de recrutamento e aumentar a sua visibilidade junto dos mais jovens não só pela marketing como também junto das escolas secundárias onde poderia captar mais candidatos. Mas isso implicava outra dinâmica na forma de cativar candidatos e isso é algo que não parece ser possível para já.

A introdução de mecanismos mais penalizadores junto dos pilotos que querem abandonar o quadro permanente seria também uma opção, mas aumentaria o risco de tornar a carreira de piloto militar ainda menos atractiva.

Portanto, não é fácil a força aérea ultrapassar este problema e calculo mesmo que jamais consiga ultrapassar o défice de pilotos que tem neste momento. Com a concorrência de cursos nas universidades esse défice será sempre difícil de ultrapassar e dessa forma a força aérea terá que adaptar lentamente o seu dispositivo a esta nova realidade.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá José

Gostei de ler o teu blog, mas permite-me corrigir-te em certos pontos, um tenente piloto na Força Aérea não recebe 2000 euros, recebe sim 1500 e um capitão recebe de 1800 a 2000 euros por mês, isto liquido, se virem que um cabo da GNR que esteja colocado nas equipas de GIPS, (as recém criadas equipas de emergência) chega a receber 1500 euros, será que não estará aqui qualquer coisa mal??
Depois, os números dos 400 pilotos foi o que foi estabelecido depois da Guerra Colonial acabar, todos sabemos que a FAP de então era muito mais numerosa em termos de aeronaves e efectivos do que actualmente.
Por fim, existem mecanismos que permitem sair antes de atingir os 8 anos, mas para isso terá de pagar toda a sua formação, incluindo os testes que efectuou para concorrer, levando por vezes a somas absurdas.
Penso que a principal razão que leva os pilotos a abandonar a FAP é a maneira como por vezes são tratados e a relação familiar que possuem, não é fácil qualquer pessoa passar 8 anos a viver uma vida de fim de semana, por exemplo, chegando a 13 anos se contares com os anos da Academia. Ou pior, como passar anos a só estar em casa 2 semanas por mês, como acontece com os cmdts da esquadra do Merlin, e mesmo nessas 2 semanas tem que fazer os alertas na base. Será dificil compreender que essas pessoas também tem familia, amigos e que gostariam de ter uma vida.
Pois quando olham para o lado e observam que os pilotos civis só se tem de preocupar em voar, tem a sua vida planeada com um mês de antecedência e ainda por cima recebem mais do dobro, isso facilita muito a sua decisão.
E será assim tão dificil fazer como a Força Aérea americana faz, aproveitando ex-pilotos militares que voam nas companhias para darem instrução nas esquadras de instrução, permitindo assim libertar os pilotos para as esquadras operacionais, onde são mais precisos e onde gostam de estar...?
Enquanto não se começar a mudar a mentalidade e criar condições para as pessoas quererem ficar em vez de as obrigar a ficar, não se resolverá este problema.

5:37 da manhã  

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